28.3.11

Branco.

Preto, preto, preto, preto, preto, preto, preto, preto, preto, preto, preto, preto, preto, preto, preto, preto, preto, preto, preto, preto, preto, preto, preto, preto, preto, preto, preto, preto, preto, preto, preto, preto, preto, preto, preto, preto, preto, preto, preto, preto, preto, preto, preto, preto, preto, preto, preto, preto, preto, preto, preto, preto, preto, preto, preto, preto, preto, preto, preto, preto, preto, preto, preto, preto, preto, preto, preto, preto, preto, preto, preto, preto, preto, preto, preto, preto, preto, preto, preto, preto, preto, preto, preto, preto, preto, preto, preto, preto, preto, preto, preto, preto, preto, preto, preto, preto, preto, preto, preto, preto, preto, preto, preto, preto, preto, preto, preto, preto, preto, preto, preto, preto, preto, preto, preto.

Preto.

4.3.11

Mas, é essa violência que temos de aceitar pacificamente?

"A assessora do ministro da Presidência interrompeu ontem a ministra da Educação no final da conferência de imprensa no Conselho de Ministros. Ana Margarida Valada justificou a interrupção com as três perguntas combinadas com os jornalistas presentes. Isabel Alçada abandonou a sala com um sorriso, evitando assim responder à comunicação social".

Todos os dias assistimos a exemplos destes. Todos os dias, aqueles que deviam informar e esclarecer, fogem às perguntas dos jornalistas, são arrogantes e revelam toda a senilidade de quem usa o poder que lhe foi incumbido para nos governar.

Actualmente, existem dois factores para que este comportamento pornográfico faça escola entre a classe política: por um lado, a promiscuidade entre jornalistas e políticos - jornalistas que passam a assessores, jornalistas que alinham em "perguntas combinadas", por exemplo -, e por outro lado, a falta de ética, de vocação e de altruísmo dos políticos.

A ministra deveria sentir-se no dever de informar e esclarecer as pessoas. E deveria encarar o trabalho dos jornalistas como indispensável para passar a mensagem sobre aquilo que é o seu trabalho no ministério. Porque é isso que mais interessa às pessoas que governa.

Esta prepotência de se combinarem perguntas é apenas um exemplo da podridão a que chegou a nossa sociedade democrática. Não quer responder? Tem de responder. Ou melhor, deve sentir-se impelida a fazê-lo. Deve gostar de o fazer, pois acredita que está a fazer o melhor que sabe e é essa realidade que tem de ser avaliada pelas pessoas. Assim, não conhecemos a realidade e não podemos ser críticos. Assim, estamos cada vez mais parecidos com os regimes ditatoriais.

Associando tudo isto ao fenómeno Wikileaks, podemos concluir que a verdade das acções políticas não é um direito que nos assiste conhecer enquanto povo eleitor. São invocados motivos "de segurança" que ninguém sabe, também, quais são. O trabalho dos políticos é cada vez mais sigiloso e abstracto. Então, que democracia é esta?

Quantos políticos são presos por ilegalidades? Quantos políticos são verdadeiramente responsabilizados por gestão danosa? Nenhuns. Porque são todos iguais e todos se servem da política com o mesmo desprezível fim.

Gostei imenso de ouvir ontem um senhor a responsabilizar o Kadafi sobre alegados crimes que ele e a sua guarda cometeram ou venham a cometer. Todos concordamos com isso, obviamente. Todos queremos viver num Mundo onde ninguém, pelo poder que tem, se sente confortável com o anúncio de futuros "milhares de mortos" por sua própria vontade.

Mas, e os responsáveis pela guerra do Iraque? Aqueles senhores todos que admitiram ter mentido para fomentar aquela guerra? Aqueles senhores que são responsáveis por milhares de mortos homens, mulheres e crianças? O senhor Bush, foi responsabilizado?

Mas que merda de moral é esta a do Ocidente? Da NATO? O Kadafi é, mas os outros não são? É isso?

E depois ainda temos de gramar a pastilha do Obama, uma fraude publicitária, que deveria ser condenado por publicidade enganosa. É que, apesar de todos nós termos percebido que Barack Obama é um produto, muitos foram enganados em relação à suposta qualidade do mesmo.

Também apreciei bastante o discurso deste senhor e de outros líderes mundiais a propósito das revoltas populares na Tunísia ou no Egipto. Nunca mexeram uma palha - concreta, por favor - para libertar aqueles povos e, aquando da iminente derrocada das ditaduras, aparecem a aconselhar essas mesmas ditaduras a abandonar o poder e que já é "tempo de dar voz e liberdade ao povo". Isto é para rir? Foram cúmplices durante décadas!

Andamos já tão anestesiados que nem damos pelas atrocidades que se cometem diariamente um pouco por este Mundo fora.

Por fim, a razão pela qual não acho útil a manifestação pacífica marcada para o próximo dia 12: não vai causar nenhuma ruptura, precisamente, por ser assumidamente pacífica.

Se incentivo a violência? Não. Essa, parece estar reservada ao poder político, que todos os dias nos torna mais pobres, doentes e inertes. Mas, é essa violência que temos de aceitar pacificamente?

3.3.11

Dois pontos.

Dois apontamentos muito rápidos:

o gajo que me faz fisioterapia consegue estar 45 minutos a falar sobre músicos, bandas, guitarras, amplificadores, carros, CD's, LP's e DVD's. Diz nomes de músicos, traça perfis psicológicos de vocalistas, regista marcas de guitarras, baixos e baterias, refere com um preciosismo irritante que tipo de amplificadores se usam e porque se usam e, finalmente, descreve fisicamente a entrada da mulher num carro que viu numa exposição de carros - levanta o pé quando a imita a entrar e a sair do carro, por exemplo.

Depois de sair, o médico olha para mim e comenta: "E tu só o aturas durante 45 minutos. Eu é o dia todo nisto". 10 minutos a rir.

Vi o filme Inside Job. É deprimente, mas constata o óbvio: o mundo e as suas regras é gerido por "meia dúzia" de "iluminados" gananciosos. Gente sem escrúpulos, sem a mínima noção do que é roubar, desviar, corromper. Soa patético, mas é esta a verdade. Somos governados por poucas pessoas que tudo fazem para usufruir do máximo de riqueza, ainda que isso signifique a miséria de todos nós. É vil, mas tão simples.


1.3.11

Não, é não.

Arrisquei a vida, hoje.

Ao longe, um vulto que se aproxima. As minhas pernas tremem. Os meus joelhos tocam-se. As mãos escondem-se do frio e enfiam-se nos bolsos desajeitados. Sem outro sítio para onde irem.

O vulto, há pouco completamente desfocado mas assustador, é bem visível agora. Corpo denso, cara de mau. Corpo denso, cara de mau.

O meu pensamento saltita entre um "estou fodido, ai, estou fodido" e um "não sejas coninhas, faz-te homem e começa a correr".

Ai. Ele vem aí e vem falar comigo. Foda-se: é cigano. É um cigano sénior. É cigano. Vou morrer com um tiro na testa porque não tenho pastilhas para lhe dar.

Cigano sénior: ó... ó... amigo...
Eu: (devo ser teu amigo, larga-me da mão ó sujo) sim...?
Cigano sénior: um cigarrinho, tens?
Eu: Não!

E continuei a andar, forte na passada, forte no orgulho de não ter cedido a um meliante. Não dou cigarros avulso, ó tanso!