4.3.11

Mas, é essa violência que temos de aceitar pacificamente?

"A assessora do ministro da Presidência interrompeu ontem a ministra da Educação no final da conferência de imprensa no Conselho de Ministros. Ana Margarida Valada justificou a interrupção com as três perguntas combinadas com os jornalistas presentes. Isabel Alçada abandonou a sala com um sorriso, evitando assim responder à comunicação social".

Todos os dias assistimos a exemplos destes. Todos os dias, aqueles que deviam informar e esclarecer, fogem às perguntas dos jornalistas, são arrogantes e revelam toda a senilidade de quem usa o poder que lhe foi incumbido para nos governar.

Actualmente, existem dois factores para que este comportamento pornográfico faça escola entre a classe política: por um lado, a promiscuidade entre jornalistas e políticos - jornalistas que passam a assessores, jornalistas que alinham em "perguntas combinadas", por exemplo -, e por outro lado, a falta de ética, de vocação e de altruísmo dos políticos.

A ministra deveria sentir-se no dever de informar e esclarecer as pessoas. E deveria encarar o trabalho dos jornalistas como indispensável para passar a mensagem sobre aquilo que é o seu trabalho no ministério. Porque é isso que mais interessa às pessoas que governa.

Esta prepotência de se combinarem perguntas é apenas um exemplo da podridão a que chegou a nossa sociedade democrática. Não quer responder? Tem de responder. Ou melhor, deve sentir-se impelida a fazê-lo. Deve gostar de o fazer, pois acredita que está a fazer o melhor que sabe e é essa realidade que tem de ser avaliada pelas pessoas. Assim, não conhecemos a realidade e não podemos ser críticos. Assim, estamos cada vez mais parecidos com os regimes ditatoriais.

Associando tudo isto ao fenómeno Wikileaks, podemos concluir que a verdade das acções políticas não é um direito que nos assiste conhecer enquanto povo eleitor. São invocados motivos "de segurança" que ninguém sabe, também, quais são. O trabalho dos políticos é cada vez mais sigiloso e abstracto. Então, que democracia é esta?

Quantos políticos são presos por ilegalidades? Quantos políticos são verdadeiramente responsabilizados por gestão danosa? Nenhuns. Porque são todos iguais e todos se servem da política com o mesmo desprezível fim.

Gostei imenso de ouvir ontem um senhor a responsabilizar o Kadafi sobre alegados crimes que ele e a sua guarda cometeram ou venham a cometer. Todos concordamos com isso, obviamente. Todos queremos viver num Mundo onde ninguém, pelo poder que tem, se sente confortável com o anúncio de futuros "milhares de mortos" por sua própria vontade.

Mas, e os responsáveis pela guerra do Iraque? Aqueles senhores todos que admitiram ter mentido para fomentar aquela guerra? Aqueles senhores que são responsáveis por milhares de mortos homens, mulheres e crianças? O senhor Bush, foi responsabilizado?

Mas que merda de moral é esta a do Ocidente? Da NATO? O Kadafi é, mas os outros não são? É isso?

E depois ainda temos de gramar a pastilha do Obama, uma fraude publicitária, que deveria ser condenado por publicidade enganosa. É que, apesar de todos nós termos percebido que Barack Obama é um produto, muitos foram enganados em relação à suposta qualidade do mesmo.

Também apreciei bastante o discurso deste senhor e de outros líderes mundiais a propósito das revoltas populares na Tunísia ou no Egipto. Nunca mexeram uma palha - concreta, por favor - para libertar aqueles povos e, aquando da iminente derrocada das ditaduras, aparecem a aconselhar essas mesmas ditaduras a abandonar o poder e que já é "tempo de dar voz e liberdade ao povo". Isto é para rir? Foram cúmplices durante décadas!

Andamos já tão anestesiados que nem damos pelas atrocidades que se cometem diariamente um pouco por este Mundo fora.

Por fim, a razão pela qual não acho útil a manifestação pacífica marcada para o próximo dia 12: não vai causar nenhuma ruptura, precisamente, por ser assumidamente pacífica.

Se incentivo a violência? Não. Essa, parece estar reservada ao poder político, que todos os dias nos torna mais pobres, doentes e inertes. Mas, é essa violência que temos de aceitar pacificamente?

2 comentários:

GettingAwayWithIt... disse...

Esta chusma de lacaios chamados 'políticos' que se prontificam servilmente a lamber os fundos dos que vêm anualmente na lista da Forbes, salvo raríssimas excepções, apenas existem para fazer leis que legitimem o roubo, a exploração, o desemprego, o proxenetismo bancário e o apoio às guerras contra os povos que por azar estejam no caminho dos interesses das multinacionais.

Buli Queime disse...

O senhor não vai à manif mas devia ir, caraças!
Então não acata o convite/provocação do sr. silva? Agora que o 'desacato' está legitimado e avalizado pelo mais alto magistrado?
Olhe que IR À MANIF é a recomendação do PPD, feita pelo seu porta-voz de serviço, a tentar colar a iniciativa à direita, para ver se se desmobiliza a esquerda.

Mau Maria, mau Maria! Vamos lá a ver se a gente não se chateia...