1.3.11

Não, é não.

Arrisquei a vida, hoje.

Ao longe, um vulto que se aproxima. As minhas pernas tremem. Os meus joelhos tocam-se. As mãos escondem-se do frio e enfiam-se nos bolsos desajeitados. Sem outro sítio para onde irem.

O vulto, há pouco completamente desfocado mas assustador, é bem visível agora. Corpo denso, cara de mau. Corpo denso, cara de mau.

O meu pensamento saltita entre um "estou fodido, ai, estou fodido" e um "não sejas coninhas, faz-te homem e começa a correr".

Ai. Ele vem aí e vem falar comigo. Foda-se: é cigano. É um cigano sénior. É cigano. Vou morrer com um tiro na testa porque não tenho pastilhas para lhe dar.

Cigano sénior: ó... ó... amigo...
Eu: (devo ser teu amigo, larga-me da mão ó sujo) sim...?
Cigano sénior: um cigarrinho, tens?
Eu: Não!

E continuei a andar, forte na passada, forte no orgulho de não ter cedido a um meliante. Não dou cigarros avulso, ó tanso!

1 comentário:

Gitanessemfiltro disse...

Eu também não dou nem cigarros, nem comida salgada, nem rodelas de chouriço, mesmo que me peçam de joelhos; era o que faltava que eu ajudasse a entupir as artérias dos que me tratam por "amigo"!